Parque Estadual do Rio Doce completa 80 anos celebrando a preservação ambiental em conexão com a comunidade

Unidade de Conservação foi a primeira criada em Minas e uma das primeiras do país, além de ser considerada a maior área contínua de Mata Atlântica preservada no estado

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As florestas de Mata Atlântica situadas nas cidades de Marliéria, Dionísio e Timóteo, no Vale do Aço mineiro, chamaram a atenção do então arcebispo de Mariana, dom Helvécio Gomes de Oliveira, que, provocado pela comunidade de Marliéria, encampou em visita pastoral na região, organizada pelas comunidades na década de 1930, ao ponto de sugerir aos presentes que se criasse uma reserva florestal naquele espaço. Foi assim que, em 14/7/1944, nasceu a primeira unidade de conservação de Minas Gerais: o Parque Estadual do Rio Doce que, neste domingo (14/7), completa 80 anos de criação, com diversos motivos para comemorar.

A 200 quilômetros de Belo Horizonte e gerido pelo Instituto Estadual de Florestas (IEF), o Parque Estadual do Rio Doce, com seus 36 mil hectares, se destaca por abrigar a maior área contínua de Mata Atlântica preservada no estado, com uma rica biodiversidade e árvores centenárias que fazem parte de um universo de florestas altas e estratificadas. Na Unidade de Conservação é possível encontrar, por exemplo, o jequitibá, a garapa, o vinhático e a sapucaia.

Já em relação à fauna, o destaque fica para a onça pintada. A presença do felino no parque é um reconhecido indicador de qualidade ambiental, por sua exigência de ambiente ecossistemicamente equilibrado e com “saúde” para sua alimentação e reprodução.

Além disso, o número de espécies encontradas no parque corresponde a 50% de todas as aves registradas em Minas Gerais e um quinto do total de espécies registradas no Brasil. Algumas espécies são bem raras e endêmicas da região, como os bicudos (Sporophila maximiliani), espécie reencontrada após 80 anos sem registro em Minas Gerais.

A Unidade de Conservação possui, ainda, mais de 40 lagoas em seu território e está aberta à visitação, proporcionando oportunidade de lazer e recreação aos visitantes, além de uma reconexão com a natureza por meio do contato com a flora, fauna e seus lagos naturais de água doce. O parque compõe o terceiro maior complexo de lagos do país.

O Parque Estadual do Rio Doce também é reconhecido internacionalmente como Sítio Ramsar, por conservar zonas úmidas consideradas prioritárias na estratégia global de proteção da biodiversidade. O título foi conferido pelo Secretariado da Convenção Ramsar, que pertence à União Mundial para a Conservação da Natureza (IUCN), sediada em Gland, na Suíça.

“Comemoramos os 80 anos desta beleza, deste parque que é de extrema importância para a biodiversidade e para a conservação de Minas Gerais. Conheçam o Parque do Rio Doce e todas as demais Unidades de Conservação de Minas Gerais. Vamos usufruir e aproveitar destes ambientes naturais”, celebrou o diretor-geral do IEF, Breno Lasmar.

 

Robson Santos / Sisema

Conexão com a comunidade

Uma das principais características do Parque Estadual do Rio Doce é a conexão com a comunidade do entorno, uma vez que diversas gerações cresceram tendo a unidade de conservação como referência, seja para lazer ou até mesmo financeira.

É o caso de Osvaldino Moreira. Nico, como é conhecido popularmente, completou, em junho, 47 anos de serviços prestados ao parque, tendo, inclusive, participado da construção de diversos atrativos do espaço, como área de camping e restaurante, além da reforma do mirante. “Eu tenho seis filhos, além de 15 netos e dois bisnetos. Todos frequentam o parque. Quando nasceram, o sustento já vinha daqui. O parque é muito importante não só para mim, mas para todos os funcionários que aqui estão ou estiveram”, afirmou Osvaldino.

Após ajudar a construir diversas estruturas no interior do parque, Nico passou a dar expediente na portaria da unidade de conservação, função que ocupa há 40 anos. Ele entende que a profissão é vital para cativar os visitantes do Rio Doce. “Falo o seguinte com as pessoas: portaria é um cartão-postal do parque. Sendo bem feita a recepção, deixa uma boa imagem para os turistas. Nesse tempo que estou aqui, eu faço aquilo que gosto. A pessoa fazer aquilo que gosta é bom demais”.

Quem também possui forte envolvimento com o parque é o gerente do Rio Doce, Vinícius de Assis Moreira. Nascido em Marliéria, cidade na qual possui 83% da área total da unidade de conservação, Vinícius faz parte da família que também auxiliou no processo de criação do parque, que contou com ampla participação popular na época.

“O DNA do parque está marcado e notado pela presença da atuação-chave da comunidade do entorno. Para mim, o destaque fica para o envolvimento da sociedade que, preocupada com a conservação deste lugar, convenceu todas as instâncias - religiosa e do estado - para se criar uma unidade de conservação, a primeira instituída por Minas Gerais”, contextualizou. 

Maior reserva de Mata Atlântica de Minas

A floresta de Mata Atlântica que abraça os lagos existentes no Parque Estadual do Rio Doce é considerada a maior reserva do bioma em Minas e serve como abrigo de populações de espécies raras da fauna, como as onças pintada e parda, além da anta e do tatu canastra. Além disso, a área da unidade de conservação contribui de forma expressiva para a manutenção da alta diversidade de estudo evolutivo e funcional dos mamíferos.

Com relação à flora, em algumas áreas do parque já foram registrados mais de 1,5 mil indivíduos arbóreos por hectare, com árvores que ultrapassam 30 metros de altura. O Rio Doce apresenta flora consideravelmente rica, sendo listadas, ao todo, cerca de 1.420 espécies. Nas lagoas e brejos da unidade de conservação são conhecidas pelo menos 136 espécies de macrófitas aquáticas, muitas encontradas apenas nas áreas úmidas do parque.

Para resguardar toda vida existente dentro do parque, o corpo técnico busca trabalhar lado a lado com a comunidade do entorno, conscientizando a todos sobre a importância de se preservar. “Temos um grande desafio que é envolver ainda mais a sociedade nessa proteção, e partimos do princípio que só se envolve nessa proteção quem conhece. Por isso é importante celebrar com a comunidade esses 80 anos, que é a razão de todo este perseverante trabalho de conservação que realizamos”, disse Vinícius.

Celebração dos 80 anos

A população também é a principal convidada a participar das atividades que celebram os 80 anos do parque. Ao longo do ano, estão sendo feitas diversas ações que vão desde exposições temáticas até educação ambiental em escolas. Neste domingo, dia em que o parque completa 80 anos, uma cerimônia solene será realizada na unidade de conservação e contará com autoridades de todos os níveis. Clique aqui e confira a programação. 

Em junho, foi inaugurada uma exposição autoguiada, com 23 fotografias emblemáticas do parque, que destacam a biodiversidade, os recursos naturais, a infraestrutura e os valores fundamentais que orientam a unidade de conservação mineira. A exposição, que é itinerante e irá percorrer todo o Vale do Aço, tem entrada gratuita e é realizada por meio de Termo de Parceria celebrado entre o IEF e Instituto Ekos Brasil.

 

Robson Santos / Sisema

Melhoria nos acessos

As rodovias que dão acesso ao Parque Estadual do Rio Doce estão passando por verdadeiras transformações. Em agosto do ano passado, o Governo de Minas, por meio do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-MG), concluiu as obras de pavimentação da LMG-760. A melhoria do trecho, de aproximadamente 50 quilômetros, era aguardada pela população local há cerca de 40 anos.

Ao todo, foram investidos mais de R$ 200 milhões na recuperação da rodovia, que beneficia seis municípios e milhares de cidadãos, entre eles, o Nico. O porteiro do Parque Estadual do Rio Doce, que mora no distrito de Cava Grande, em Marliéria, foi testemunha das condições precárias que o trecho se encontrava. Agora, Osvaldino vê o presente e o futuro com bons olhos.

“Quando a chuva vinha, a situação ficava difícil. Hoje, não. Foi feito o asfalto e ajudou muito em termos de turismo. Ajudou, ainda, em relação à saúde, pois as prefeituras utilizam a estrada para levar pacientes a hospitais, e, com a recuperação da via, os municípios economizam minutos preciosos”.

Outra rodovia que está sendo recuperada é a AMG-4030, entre a sede do município de Marliéria e o Parque Estadual do Rio Doce. Por lá, acontecem obras de implantação, pavimentação e recuperação viária nos 14,7 quilômetros da via. Mais de 200 mil pessoas serão beneficiadas, com investimento da ordem de R$ 26 milhões.

As intervenções fazem parte do Provias, maior pacote de obras rodoviárias do Governo de Minas da última década. E elas já refletem na quantidade de visitantes do parque, que bateu o recorde de visitação dos últimos 23 anos, com 33 mil visitantes apenas em 2023.

“A partir das obras na LMG 760 e na AMG-4030, conhecida como Estrada Parque Bispo Dom Helvécio, se verificou uma reação muito positiva em termos de visitação. Mas esperamos ultrapassar esse número neste ano e reagir de forma muito importante à visitação pública até 2030”, projetou.

O Parque Estadual do Rio Doce possui estrutura completa para controle, acolhimento e hospedagem de visitantes e está aberto de terça a domingo, das 8h às 17h, com entrada permitida até às 15h. Para obter mais informações, clique aqui.



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