Óperas produzidas em Minas estão mais vivas do que nunca e encantam público de todas as gerações

“Devoção”, que estreia nesta sexta-feira (19/7), no Palácio das Artes, é a 95ª produção da Fundação Clóvis Salgado; mineiridade é ponto alto na trama

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Nos últimos anos, o número de estreias de óperas brasileiras tem aumentado consideravelmente e a Fundação Clóvis Salgado (FCS) assume papel de destaque no cenário nacional. 

A ópera nas terras das alterosas respira mineiridade. Com a tríade “Aleijadinho”, “Matraga” e “Devoção”, produzidas pela FCS, o Palácio das Artes, há três anos consecutivos, investe em colocar a história do estado em evidência por meio de personagens e narrativas que estão na gênese do povo mineiro. 

A mais recente produção do Palácio das Artes, "Devoção", estreia, nesta sexta-feira (19/7), no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes, após pré-estreia lotada em Congonhas, em 13/7. O compositor João Guilherme Ripper, considerado um veterano na criação de óperas contemporâneas, assina a obra. 

Ele se diz muito feliz com a oportunidade de desenvolver outra ópera totalmente brasileira em solo mineiro: “o Brasil tem uma grande riqueza histórica e literária sendo explorada, e graças a essas encomendas dos teatros de ópera do Brasil, em especial do Palácio das Artes, que é a terceira obra que trata da mineiridade, estamos tendo a oportunidade de explorar esse lado tão bonito e tão forte que é a devoção, em todas as suas manifestações.” 

André Cardoso, músico e autor do libreto de “Devoção” em parceria com Ripper, sustenta que a ópera é um gênero vivo no mundo inteiro, e que o Brasil vive um momento especial. 

“É muito importante oferecer uma ópera com conteúdo brasileiro, que retrate a vida, a história do povo, que traga para o palco personagens reais ou fictícios, mas que tenham conexão com a cultura do nosso país. É muito bom ver que o Palácio das Artes investe seriamente nisso. A prova é ‘Devoção’, mais uma importante ópera brasileira em estreia”, ressalta Cardoso.  

Trilogia da mineiridade

Em 2022, “Minas” esteve em foco com a montagem de “Aleijadinho”. A récita teve sua estreia em 29/4, com encenação ao ar livre, em Ouro Preto, antiga Vila Rica, onde nasceu e viveu o escultor Antônio Francisco Lisboa. 

O cenário foi a Igreja São Francisco de Assis, onde se encontram alguns dos principais acervos de suas criações. 

Composta por Ernani Aguiar e com libreto escrito por André Cardoso, a ópera foi baseada em fatos da vida do mestre internacionalmente reconhecido como artista maior do Barroco Mineiro, e cujas obras permanecem como referência em cidades históricas do estado.

Em 2023, a ambientação foi o sertão das “Gerais”. “Matraga", ópera em três atos de Rufo Herrera baseada no conto “A hora e vez de Augusto Matraga”, de Guimarães Rosa, lotou os 1,7 mil lugares do Grande Teatro Cemig Palácio das Artes. 

A peça foi uma versão adaptada da original, composta por Herrera em 1985, “Balada para Matraga”. A composição de Matraga se converteu em uma homenagem aos 90 anos do compositor nascido na Argentina, mas radicado no Brasil desde a década de 1960, com uma importante atividade em Minas Gerais. 

Como no caso de “Aleijadinho” em Ouro Preto, dessa vez, a cidade natal de Guimarães Rosa, Cordisburgo, foi a escolhida para a primeira récita. A Gruta de Maquiné foi o cenário perfeito, que arrancou aplausos frenéticos por mais de 10 minutos ao final da apresentação.

Temporada 2024

E, agora, em 2024, Congonhas foi o local escolhido para a encenação em dois atos da história de Feliciano Mendes, português que chega à região das Minas em busca de ouro. 

Além de composta por João Guilherme Ripper e de ter André Cardoso na escrita do libreto, “Devoção” tem direção musical de Ligia Amadio e concepção e direção cênica a cargo de Ronaldo Zero. 

Tanto a Orquestra Sinfônica, quanto o Coral Lírico de Minas Gerais e a Cia de Dança Palácio das Artes integram todas as produções operísticas do Palácio das Artes. A pré-estreia em Congonhas contou com uma participação conjunta do Coral Cidade dos Profetas. 

Para a diretora artística da Fundação Clóvis Salgado, Claudia Malta, o maior desafio de uma montagem original é exatamente o desconhecido: “em uma ópera de repertório você conhece a música, os trechos, sabe os pontos chave, o clímax, escala o elenco com mais assertividade. Em uma ópera original, é preciso confiar muito no compositor, no libreto, porque somente nos ensaios completos é possível dimensionar um pouco do que será o espetaculo”.

Presidente da Fundação Clóvis Salgado, Sérgio Rodrigo Reis está seguro de que, com a ópera “Devoção”, o Palácio das Artes se coloca entre as raras instituições nacionais que mantêm um programa regular de criação de títulos inéditos e exclusivos inspirados na nossa cultura. 

Ele acredita que “somos, com toda esta movimentação em torno da criatividade, protagonistas de um movimento de democratização e de transformação do gênero para as novas gerações.” 

“Ao traduzir o que somos, a nossa identidade, a nossa alma e nosso povo, estes espetáculos têm conseguido ganhar um sentido de pertencimento ainda maior ao nos transmutar em forma de arte”, completa Reis. 

Tradição operística

“Devoção” é a 95ª ópera encenada pelo Palácio das Artes. Além das três recentes obras contemporâneas, já é tradição da Fundação Clóvis Salgado oferecer ao público o repertório mundial criado por Verdi, Puccini, Bizet e outros grandes compositores eruditos. 

Há exatamente um ano, uma coletânea de trechos dessas óperas que marcaram o gênero na Itália foram encenadas no “Viva Ópera: espetáculo dos clássicos operísticos”, e estreou no Grande Teatro Cemig Palácio das Artes para marcar a segunda Temporada Lírica da instituição. No programa, trechos de nove das consideradas mais importantes óperas italianas. 

O espetáculo levou ao público, entre outras peças, “La Traviata”, “Aida” e “Rigoletto”, de Giuseppe Verdi, “Madama Butterfly”, de Giacomo Puccini, e “O Barbeiro de Sevilha”, de Gioachino Rossini. Um revival de grandes produções da casa, que teve, como sempre, sucesso de crítica e público.



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