Legião de apaixonados por “Grande Sertão: Veredas” se reúne em Cordisburgo durante a Semana Rosiana

Leitores celebram legado de Guimarães Rosa no evento realizado de 7 a 14/7

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Durante oito dias, Cordisburgo viverá dias especiais ao celebrar a obra de seu filho ilustre, o escritor Guimarães Rosa, na 36ª edição da Semana Rosiana, realizada entre 7 e 14/7. Nesse período, a pequena cidade de 8 mil habitantes, localizada na região Central de Minas Gerais, recebe apaixonados pela literatura de Rosa de todo o país, conhecidos como rosianos. 

A jornalista Regina Pereira, a professora Christina Cruz e a farmacêutica Daniella Guimarães de Araújo fazem parte desta legião: elas sairão de suas respectivas cidades e irão para Cordisburgo especialmente para o evento.

Regina participou da Semana Rosiana pela primeira vez em 2006. “Foi como se tivessem aberto um portal para mim”, diz a jornalista, que mora na cidade de São Paulo e é uma das coordenadoras da Oficina de Leitura Guimarães Rosa, do Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo (USP). Desde 2008, ela não perdeu uma edição sequer do encontro.

Nascida em Juruaia, no Sul de Minas, a jornalista foi impactada pela literatura do escritor mineiro ainda na adolescência, ao se deparar com o romance “Grande Sertão: Veredas”. Foi apenas a primeira das 16 vezes que ela leu o livro.

Regina Pereira (Arquivo pessoal)

“Existe essa percepção de que somos um movimento. Há, de fato, uma comunidade rosiana, um movimento contínuo cujo ápice é a Semana Rosiana. O que tem de mágico na Semana Rosiana é essa devoção em volta da obra dele”, comenta Regina.

Envolvida em várias frentes com o legado de Guimarães Rosa, o que a faz uma legítima rosiana, Regina também é uma das roteiristas do curta-documentário “A Casa da Palavra”, que celebra os 50 anos do Museu Casa Guimarães Rosa, completados em março, e está em fase de produção e captação de recursos.

O museu fica na casa em que o escritor nasceu e viveu os primeiros anos de sua infância.

A Semana Rosiana é uma realização do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult) e do Museu Casa Guimarães Rosa, da Prefeitura Municipal de Cordisburgo e da Academia Cordisburguense de Letras Guimarães Rosa.

Cordisburgo se transforma

Daniella Guimarães de Araújo marca presença na Semana Rosiana desde 2017, mas não é só para o evento que ela vai a Cordisburgo. Desde que se mudou para Sete Lagoas, também na região Central de Minas, a farmacêutica e poeta vai com bastante frequência à terra natal de Guimarães Rosa. Tudo que está relacionado ao escritor desperta curiosidade e fascínio.

Neste ano, ela irá ministrar a oficina “Escrever a cultura: do esquecimento ao pertencimento”, centrada nos 50 anos do Museu Casa Guimarães Rosa e na importância da memória para a manutenção do museu vivo.

Para Daniella, Cordisburgo se transforma “nesse corpo de baile” durante a Semana Rosiana e ganha novos brilhos com os rosianos a celebrar a obra do escritor mineiro.

“Cordisburgo é o único lugar no Brasil que vejo discutir literatura, dessa forma tão intensa, durante uma semana. As pessoas emanam em torno de algo, tudo dança, tudo se move nessa busca da vida”, afirma Daniella.

Daniella Guimarães (Arquivo pessoal)

Ela descreve a sensação que experimenta todos os anos. “A semana nos convida a abraçar tudo aquilo que é original, que é, de certa maneira, fora desse tempo que estamos vivendo. Ela inaugura algo novo dentro da gente. Guimarães Rosa nos ajuda a viver”.

Sentimento rosiano

Do município de Campos, no Norte do Rio de Janeiro, a professora Christina Cruz também tem Cordisburgo como destino entre os dias 7 e 14/7. Ela viaja quase um dia inteiro para chegar à cidade, com o sentimento rosiano aflorado.

A Semana Rosiana, pondera, cria fortes laços entre turistas e moradores. Amizades começam ali e são fortalecidas, tendo a literatura do escritor como ponto de união.

“Claramente existe essa sensação de pertencimento a um grupo rosiano. Nós temos paixão pela obra, descobrimos mais coisas a cada leitura, conversamos a respeito, ouvimos um ao outro lendo os livros dele. Estar em Cordisburgo é a celebração de tudo isso”, conta.

Christina Cruz é integrante de uma roda de leitura online chamada “Rosa da Palavra”, criada pelo acadêmico Sandro Soares, de Mossoró (RN), em 2022, e que reúne apaixonados por Guimarães Rosa de todo o país.

Considerado “embaixador do sertão rosiano”, José Osvaldo dos Santos, o Brasinha, é um personagem emblemático de Cordisburgo, para onde se mudou quando tinha apenas 1 ano de idade. Sete décadas depois, ele diz que a população da cidade fica ansiosa “esperando as pessoas virem para virar aquele encantamento, algo mágico que mexe com a alma da gente”. 

Ele vê Cordisburgo pulsar diferente e fazer pessoas de todo o país se sentirem em casa, mesmo longe de seus lares. “Fico muito emocionado e sensibilizado com o que acontece. Acaba que todos são conterrâneos de Guimarães Rosa porque o sertão é do tamanho do mundo”, reflete Brasinha.

Programação

A 36ª Semana Rosiana contará com palestras, mesas-redondas, oficinas, exibição de filmes, lançamento de livro, saraus, apresentações musicais e teatrais, exposições, feira gastronômica sertaneja, narrações do Grupo Miguilim e caminhadas eco-literárias.

A programação é gratuita e tem início com a inauguração da Casa de Leitura João da Cunha, no dia 7/7, às 16h, e será encerrada no dia 14/7, com um show do cantor e compositor Renato Teixeira, às 20h, em frente ao Centro de Atendimento ao Turista (CAT).
 

Cortejo da Semana Rosiana em 2023 (Museu Casa Guimarães Rosa / Divulgação)

 



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