Governo de Minas reforça vigilância com exercício simulado de febre aftosa

Há 29 anos sem registros da doença, estado reúne forças nacionais e internacionais, lança aplicativo e reafirma a confiança dos mercados globais

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Com um rebanho estimado em 22,1 milhões de cabeças de gado, Minas Gerais sabe que precisa cuidar bem da saúde desse patrimônio. Diante disso, o Governo do Estado, por meio do Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA), em parceria com o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa), escolheu Montes Claros, no Norte de Minas, importante polo pecuário, para simular uma eventual situação de emergência sanitária envolvendo a febre aftosa.

O exercício simulado de um caso da doença começou em 23/9 e segue até sexta-feira (3/10), envolvendo cerca de 300 servidores do IMA, de órgãos similares de outros 21 estados e de representantes de países sul-americanos. A ação conta com o uso de drones, veículos, computadores, equipamentos laboratoriais e um aplicativo desenvolvido especialmente para emergências sanitárias.

 

No simulado, tudo acontece como em uma situação real. A partir da notificação do caso suspeito em determinada propriedade, fiscais do IMA vão até o local para examinar os animais e, se necessário, coletar amostras. O gado doente pode apresentar febre, aftas na língua, lábios, nas narinas e nas patas, causando claudicação (manqueira), salivação excessiva e perda de apetite, levando ao enfraquecimento e à diminuição da produção de carne e leite.

 
   
   

A amostra, então, é encaminhada a um Laboratório Federal de Defesa Agropecuária (LFDA) e, caso o resultado seja positivo, inicia-se o procedimento de saneamento do foco que entre outras medidas realiza o abate sanitário dos animais. “Preferencialmente, esses animais devem ser enterrados na própria fazenda de origem, seguindo as recomendações dos órgãos ambientais”, explicou a gerente de defesa sanitária animal do IMA, Izabella Hergot.

Zona livre da doença

Em maio desse ano, o Brasil foi declarado zona livre de febre aftosa sem vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (Omsa).

Desde 1996, não há registros da doença em território mineiro, mas Izabella Hergot reforça que não se deve baixar a guarda. A rapidez da ação do Serviço Veterinário Oficial (SVO) pode evitar a disseminação da enfermidade para outros rebanhos e reduzir os impactos econômicos para o país. “É fundamental garantirmos que acordos internacionais de comércio não sejam afetados”, lembrou a gerente de defesa sanitária animal do IMA.

Aplicativo pioneiro

Outra novidade no estado é a adoção de um aplicativo desenvolvido em parceria com a Universidade Federal de Lavras (Ufla), especialmente para o atendimento de emergências sanitárias.

Uma coordenação pública no app traz as novidades, permitindo que os usuários tenham acesso ao mapeamento de zonas de foco, divisão de equipes, distribuição de tarefas, material de apoio e instruções gerais. “A aceitação da ferramenta tem sido tão boa que ela deverá ser utilizada pelo Centro Pan-Americano de Febre Aftosa e Saúde Pública Veterinária (Panaftosa)”, revelou a diretora-geral do IMA, Luiza de Castro.

Memória

No passado, a febre aftosa provocou forte instabilidade na pecuária brasileira. “Diante da falta de informação, o consumidor ficava inseguro em comprar carne, os preços despencavam e toda a cadeia era impactada”, contou o médico-veterinário, consultor e professor Vitoriano Dornas.

Para ele, o exercício mostra para o mercado internacional os protocolos sólidos e capacidade de resposta rápida do Estado. Desde 2019, o Governo de Minas já destinou cerca de R$ 70 milhões à defesa agropecuária, sendo R$ 1 milhão especificamente para este simulado.

Controle e erradicação

Gilberto Coelho é médico-veterinário do IMA desde 1972, e presenciou de perto a angústia dos produtores num tempo em que cada unidade regional registrava cerca de cinco casos de aftosa por ano e as propriedades afetadas ficavam impedidas de comercializar seus rebanhos.

“Todo pecuarista tinha que conviver com o fantasma da doença e com os altos custos da vacinação. O gado precisava ser vacinado de quatro em quatro meses, até que houve uma importante mudança em 1992, quando passamos para a fase da eliminação dos rebanhos acometidos e a transição da vacina aquosa para a oleosa, que ofereceria uma ‘janela’ de imunidade maior, de seis meses”, relata o veterinário.

Hoje, o sentimento de Gilberto, que participa ativamente do simulado em Montes Claros, é de orgulho dos investimentos feitos pelo Governo de Minas e da dedicação de todos os servidores do IMA.

“Cinquenta anos não é muito tempo se levarmos em consideração a luta que é erradicar uma doença como a aftosa, e o tempo que outros países levaram para conseguir alcançar esse status. Agora, precisamos contar com a parceria dos produtores rurais para nos mantermos vigilantes contra quaisquer sintomas e para que não haja um retrocesso nessa conquista”, conclui.



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