Detentas participam de capacitação agrícola

Alimentos produzidos no presídio são doados para instituições de caridade

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Detentas aprenderam técnicas e aplicaram, recentemente, no projeto Quintais Produtivos
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As detentas do Presídio de Eugenopolis, na Zona da Mata, participaram do projeto “Quintais Produtivos – Mulheres em Redes de Colaboração Solidária, Alternativa que gera Vida e Renda”, do Instituto Boa Esperança, em parceria com o Banco do Brasil. A unidade prisional foi a única selecionada para participar da capacitação, que será realizada também em outras três cidades de Minas Gerais.

Desde sua inauguração, em 2015, o presídio investe no cultivo de hortaliças, que são colhidas e distribuídas para instituições de caridade do município, como o hospital local, Apae, creche municipal e asilo. O curso recebido por 15 presas aprimorou ainda mais o trabalho feito, além de diversificar a produção de alimentos. Elas aprenderam também técnicas para cultivo de plantas medicinais e árvores frutíferas. No total, a capacitação teve carga horária de 80 horas, divididas em aulas práticas e teóricas.

Crédito: Divulgação/Seap

Segundo o diretor adjunto do presídio, Antônio de Almeida, a unidade conta com duas hortas, num total 3,8 mil metros quadrados, e semanalmente doa mais de 20kg de alimentos para as instituições.

“Receber o curso foi muito bom para o que nós buscamos fazer aqui, ou seja, ajudar as detentas no processo de ressocialização. Dar a elas condições para ver a vida sob uma nova perspectiva, percebendo que nem tudo está perdido. Proporcionar uma chance de mostrar que elas têm capacidade, que podem mudar, trabalhar e ajudar suas famílias”, afirma.

O projeto tem por objetivo contribuir para a promoção da autonomia econômica de mulheres. Além das técnicas de cultivo, que são de fácil replicação, a capacitação também proporcionou orientação sobre a produção de compostagem, defensivos e fertilizantes naturais. A iniciativa está alinhada aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU).

Pâmela Cristina Chaves, 26 anos, cresceu no campo, mas nunca se interessou pela horta da família. Foi no presídio que teve a oportunidade de, enfim, de trabalhar com a terra. “Hoje eu me sinto feliz, leve, agradeço a Deus todos os dias por ter tido essa chance, só Ele sabe como isso me transformou. Me considero uma nova Pâmela, cuidar de algo, ver crescer e saber que fiz tudo isso com as minhas mãos, é indescritível. Aprendemos muito, coisas que inclusive podemos fazer lá fora e ganhar um sustento, como a conserva de pimentas”, diz Pâmela.

Agroecologia

O curso foi baseado na Agroecologia, com o ensino de técnicas para produção de alimentos orgânicos, sem uso de químicos. Antes do início das aulas, a professora Crisângela Elen de Souza esteve no local para conhecer a área e as demandas do presídio, de modo a adequar a capacitação à necessidade do local. Ela é formada em Geografia, com especialização em Plantas Medicinais, trabalha com agroecologia e é monitora de extensão na Universidade Federal de Viçosa (UFV).

Crédito: Divulgação/Seap

As primeiras aulas buscaram resgatar das presas as práticas cotidianas que elas desempenhavam. Outro diferencial era que, diariamente, professora e alunas falavam sobre receitas com plantas medicinais usadas por elas e por seus familiares, o que resultou na criação de uma cartilha.

Durante o curso, a professora percebeu uma dificuldade com aquisição de mudas. A partir disso, surgiu a ideia de ensinar técnicas de produção de mudas e a criação de dois viveiros. A iniciativa contou com o apoio da empresa Agrocinco, que doou sementes de hortaliças e legumes para a produção.

Crisângela conta que sempre quis trabalhar no sistema prisional e que foi uma grande realização levar seus conhecimentos para dentro de um presídio.

“Foi uma das melhores experiências da minha vida como professora. Eu aprendi muito mais que ensinei. Conversei com as alunas sobre outras perspectivas de vida para que elas não voltem para o crime. Cada sorriso que davam, cada empolgação em aprender, só me enriquecia”, enfatiza a professora.



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