Centro de Queimados do Hospital João XXIII é primeiro do país a padronizar técnica que reduz tempo de internação e mortes
A partir de abril, método Meek fará parte da rotina de assistência aos pacientes com grandes queimaduras em Minas Gerais
Em maio do ano passado, o operador de loja João Lucas Rodrigues Antunes, 24 anos, chegou ao Centro de Tratamento de Queimados (CTQ) Professor Ivo Pitanguy, do Hospital João XXIII (HJXXIII), com 54% do corpo queimado. Ele foi o primeiro paciente a ser beneficiado pela técnica de microenxerto modificada (Meek).
A partir de abril deste ano, o método será oficialmente padronizado no hospital em Belo Horizonte. O procedimento passará a integrar a rotina assistencial do serviço em Minas Gerais, sendo a primeira padronização desse tipo no país.
De acordo com a coordenadora do CTQ e presidente da Sociedade Brasileira de Queimaduras (SBQ), Kelly Danielle de Araújo, a técnica já foi aplicada em quatro pacientes entre maio e setembro do ano passado.Todos apresentaram recuperação mais rápida e tiveram alta antes do previsto.
A especialista explica que o Meek é um equipamento que corta a pele do paciente em vários pedaços para ser fixada em curativos que se expandem, como uma "sanfona", e aumentam em até nove vezes a capacidade de cobertura da pele.
“Com a adoção padronizada da técnica, esperamos maior rotatividade de leitos, com a meta de menor taxa de infecção e de mortalidade, além da oferta de uma melhor experiência para o paciente durante a sua internação e de maior qualidade de vida no pós-operatório e no pós-alta”, afirma a médica.

Crédito: Arquivo Pessoal
Para o João, que ficou internado por 69 dias, 30 deles em estado de coma, a recuperação mais rápida foi fundamental. “Eu tive uma nova oportunidade de vida. Foi um atendimento super humanizado, me trataram muito bem. Se eles não tivessem toda a atenção que tiveram comigo, eu teria ficado internado por muito mais tempo”, conta.
Mudança de paradigma
A cirurgiã plástica destaca que com a técnica Meek, a cicatrização é mais rápida, utilizando-se uma menor área doadora de pele, com maior cobertura da ferida, menor número de cirurgias e de tempo de internação, quando comparada a outras técnicas de enxerto usadas em pacientes grandes queimados – com área corporal atingida superior a 20%.
“É uma mudança de paradigma pela possibilidade de sobrevida de pacientes com grandes áreas do corpo atingidas, para os quais antes não havia chances de sobreviver ”, ressalta Kelly Araújo.
Casos e principais causas
Nos dois últimos anos, o CTI recebeu cerca de 200 pacientes. No mesmo período, na enfermaria foram mais de 560 internações, enquanto o ambulatório de queimados realizou mais de 3 mil atendimentos.
Somente nos dois primeiros meses de 2025, foram 70 internações distribuídas entre o CTI e a enfermaria.
Do total de internações no CTI, aproximadamente, 40% foram casos envolvendo álcool. Na enfermaria, o líquido livre (água ou óleo quentes) também responde por quase 40% dos casos.
Em todas as faixas etárias, há uma prevalência do gênero masculino, eles são 62% dos casos. De modo geral, a recuperação dos pacientes com grandes queimaduras é lenta e leva, em média, dois anos.
Maior do país
O CTQ do HJXXIII – hospital que integra o Complexo Hospitalar de Urgência e Emergência da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (Fhemig) – é o maior centro de tratamento de queimados do Brasil em número de leitos de terapia intensiva (CTI), com nove leitos para adultos e dois para crianças, totalizando 11.