Pronunciamento do governador Romeu Zema na cerimônia em comemoração ao Dia de Minas

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Bom dia a todos e a todas!

É uma honra comemorar o aniversário de Mariana, a primeira cidade e a primeira capital de Minas Gerais. Tudo que somos hoje como povo e estado começou aqui. Este ano, ampliamos o Dia de Minas para Semana de Minas, com atividades em várias cidades do Estado para celebramos nossa cultura e nos fortalecer como destino turístico, mostrando ao mundo todo o potencial do nosso povo.

Nesse 16 de julho, quando Mariana completa 328 anos e se torna, mais uma vez, a capital simbólica do estado, a minha mensagem enquanto Governador não é apenas sobre a celebração dessa história. Estou aqui para falar sobre justiça, sobre cuidado com as pessoas e sobre o futuro esperançoso que estamos construindo a muitas mãos, junto de tantos parceiros e amigos importantes aqui presentes, unidos pelo sentimento de preservação e carinho por Mariana e por seus moradores.

 Tenho certeza de que nós compartilhamos o mesmo nó na garganta e a mesma indignação ao lembrar de cada família que perdeu um ente querido, seja um filho, um marido, um amigo, um colega de trabalho, naquele fatídico dia 5 de novembro de 2015. Como mineiro, acredito que essa memória, ainda que carregada de tristeza, é também a nossa maior motivação para exigir justiça e mudanças concretas.

Quando assumi o Governo de Minas, a tragédia de Mariana tinha recém completado três anos. Ao tomar conhecimento do andamento das ações de reparação, fiquei revoltado em saber o quão lentas estavam. Nos anos seguintes, assistimos a consultorias e empresas recebendo muito dinheiro, prometendo diversas soluções que nunca vieram, e atuando sem oferecer um pingo de dignidade, conforto e justiça para os atingidos. Nós vimos a Fundação Renova gastar bilhões de reais sem alcançar uma reparação satisfatória. Quem não recebeu o que devia nessa história foram as famílias, os prefeitos prejudicados e toda a população mineira e capixaba que até hoje sofrem com as consequências de um Mar de Lama arrastado por mais de 650 quilômetros de distância, entre os estados de Minas Gerais e do Espírito Santo.

No caso de Brumadinho, que aconteceu quatro anos depois, exatamente no primeiro mês do meu governo, fechamos um acordo sério e bastante rígido com a Vale, com ampla participação popular e das instituições de Justiça, que ajudaram a escolher cuidadosamente como investir os R$ 37 bilhões usados como parte da reparação da tragédia, incluindo a execução de centenas de projetos essenciais, como unidades de saúde, escolas, praças públicas, intervenções viárias, entre tantas outras realizações. Hoje, já temos obras concluídas e muitas outras em andamento.

Quando visito Brumadinho, o que ouço dos moradores são relatos de melhoria na condição de vida das pessoas e um sentimento de perspectiva nova no horizonte. Isso só está acontecendo porque houve um acordo de reparação, porque as empresas foram duramente punidas e, a partir disso, foi possível não apenas reconstruir a cidade e começar a recuperar o meio ambiente, mas também acolher a população com sensibilidade, investir em saúde, educação, segurança e desenvolvimento, retomando a geração de emprego e renda e criando oportunidades para uma vida melhor.

É isso que queremos para Mariana. Reforço que não estamos pedindo nenhum favor às empresas Samarco, Vale e BHP, que devem ser responsabilizadas pela tragédia de Mariana. Estamos exigindo o direito do povo mineiro de ser integralmente reparado pela irresponsabilidade dessas empresas, em um ato que acabou com 19 vidas e deixou um dano ambiental gigantesco para nossos rios, florestas, fauna e populações ribeirinhas. Uma reparação digna é o mínimo a ser feito, e nós não aceitamos nada a menos do que isso. Tenho absoluta certeza de que, depois de muito trabalho nos últimos cinco anos e meio do meu governo, finalmente estamos mais próximos de um acordo justo para Mariana.

Diante de toda essa luta, é mais que necessário reconhecer e homenagear ao menos uma parte das pessoas que, há quase dez anos, têm atuado com muita determinação para garantir a justiça devida para os moradores de Mariana e região. Sou muito grato a todos os esforços, batalhas, denúncias e exigências que tantos atores e autoridades envolvidas neste processo vem fazendo, incansavelmente, desde 2015. E incluo aqui os moradores organizados, os jornalistas, os deputados e os prefeitos de cidades próximas; membros do Ministério Público, todo o sistema Judiciário, nossos policiais e bombeiros; e tantos outros profissionais dedicados, pessoas comovidas e solidárias, mineiros inconformados, que atuaram e atuam na defesa dos direitos de Mariana e do Rio Doce.

Estou falando de gente como o promotor Carlos Eduardo, do Ministério Público de Minas Gerais. Desde 2015, ele tem atuado com esforço e energia, dedicado a apontar a responsabilidade ambiental das empresas, obrigando-as a negociar e a reconhecer os danos causados à população e à natureza. O doutor Carlos segue sendo uma das referências mais firmes de apoio aos atingidos de Mariana, agora ajudando a consolidar nosso processo de renegociação junto ao Governo Federal e as empresas responsáveis.

Doutor Carlos também foi fundamental para elaboração do projeto que deu origem à Lei Mar de Lama Nunca Mais. A legislação proibiu às barragens à montante em Minas. Graças a essa lei, temos um Estado muito mais seguro. Essas estruturas, que provocaram as tragédias de Mariana e Brumadinho, não serão conhecidas pelas novas gerações de mineiros, pois estão sendo todas descaracterizadas.

Da mesma forma, tenho muita admiração e gratidão a toda a equipe da Secretaria de Planejamento e Gestão, que vem conduzindo as discussões mais recentes sobre um novo acordo de reparação para Mariana, ajudando e muito a acelerar o processo, incluindo a análise de propostas de ressarcimento por parte das empresas responsáveis. Na figura da nossa hoje secretária de Planejamento e Gestão, Camila Neves, agradeço a dedicação e a seriedade dos nossos servidores para aprimorar as discussões com os demais envolvidos na tragédia, incluindo aqui a ex-secretária Luísa Barreto e o Secretário Adjunto Luis Otávio, que nos últimos dois anos está à frente dessa difícil negociação e, hoje, é um dos homenageados neste dia tão especial.

É preciso fazer um reconhecimento à parte para o empenho de todos os profissionais da imprensa que ajudaram a denunciar a tragédia de Mariana para o Brasil e para o mundo, cobrando responsabilidades das empresas e apontando constantemente os erros ao longo do processo de reparação. Os jornalistas Mateus Edson, Liliana Junger e Aline Diniz estiveram aqui em Mariana, em 2015, e ao longo desse tempo acompanharam o desenrolar de cada desenvolvimento dessa tragédia.  Em nome deles, agradeço todos da imprensa e sigo contando com vocês, jornalistas, responsáveis por um fundamental trabalho de levar a informação correta à população. E, com isso, ajudarem a fazer justiça.

Também deixo aqui o meu sincero agradecimento e a minha admiração a tantos outros personagens igualmente importantes para transformar Mariana, incluindo seus ilustres moradores, como o eletricista Valdemar, o historiador Moacir, a professora de matemática Alice que ajudaram, como puderam, a começar a reerguer a cidade de Mariana depois da tragédia.

Quero encerrar minha fala reforçando o meu compromisso com os mineiros e, principalmente, com os marianenses. Não vou descansar nem por um segundo sequer enquanto não for dada à Mariana a reparação que todos os atingidos precisam e merecem. Nenhuma burocracia, nenhum entrave, nenhuma resistência das empresas que cometeram esse crime contra Minas Gerais vai nos fazer recuar ou parar.

Ainda que a dor do passado esteja sempre presente, como uma marca impossível de esquecer, nós vamos construir, juntos, um futuro bonito e justo para as novas gerações. Como escreveu muito bem a poeta brasileira Cora Coralina: “existe mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas; mais esperança nos meus passos, do que tristeza nos meus ombros”. E é com esse espírito inabalável que me comprometo com os moradores de Mariana e das cidades da bacia do Rio Doce a trazer para vocês a mesma reparação que Brumadinho está tendo. Eu não aceitarei nada menos do que a justiça plena para Mariana. E nós estamos muito perto de chegar lá.

Muito Obrigado!

Viva Minas,

Viva Mariana!