Pesquisa destaca potencial do Parque Estadual da Serra do Brigadeiro para se tornar o primeiro Dark Sky Park de Minas Gerais
Minas Gerais é apontado como um dos estados com maior potencial para o desenvolvimento do astroturismo
O Parque Estadual da Serra do Brigadeiro (Pesb), localizado na Zona da Mata, pode se tornar a primeira Unidade de Conservação de Minas Gerais a receber o título internacional de Dark Sky Park, concedido pela DarkSky International — organização global dedicada à proteção dos céus escuros. A conquista colocaria o estado entre os principais destinos de astroturismo do país.
A candidatura está sendo preparada pelo astrônomo Daniel Mello, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), por meio do projeto Astroturismo nos Parques Brasileiros (AstroParques). Entre fevereiro de 2024 e setembro de 2025, a equipe realizou estudos técnicos sobre a qualidade do céu noturno e o nível de poluição luminosa dentro do parque.
Os resultados são expressivos: o Pesb apresenta um dos céus mais escuros já registrados em áreas protegidas brasileiras, com índices que atendem plenamente aos critérios exigidos para certificação internacional. As medições incluíram o uso de fotômetros, mapeamento de fontes de luz artificial e um inventário detalhado da iluminação existente na unidade, identificando pontos que precisam de adequação para reduzir impactos sobre fauna, flora e o próprio brilho do céu.
Além dos estudos científicos, o projeto tem promovido sessões astronômicas abertas ao público, em parceria com o Trilha Brigadeiro Caparaó. As atividades já atraíram visitantes de 22 municípios, reforçando o potencial turístico da região. Cerca de 48% dos participantes permaneceram hospedados na área, indicando geração de renda e fortalecimento da economia local. Com telescópios e orientação especializada, as sessões permitem que o público observe fenômenos como a Via Láctea, o Cruzeiro do Sul e até a Pequena Nuvem de Magalhães — visível apenas em locais com baixíssima poluição luminosa.
Durante o projeto, o céu do parque foi registrado também por astrofotografias científicas, que evidenciam a excepcional qualidade da escuridão no Pesb. A previsão é que o relatório final de candidatura seja submetido à DarkSky International no início de 2026.
Para o coordenador do estudo, Daniel Mello, o parque reúne condições raras no país. “Nossos dados mostram que o Pesb possui qualidade de céu comparável a destinos internacionais reconhecidos no astroturismo. Transformá-lo em Dark Sky Park significa integrar ciência, conservação ambiental e desenvolvimento regional sustentável”, afirma.
AstroParques: ciência, conservação e turismo noturno
O projeto AstroParques reúne pesquisadores da UFRJ, IFRJ e instituições do setor turístico. A iniciativa une ciência e conservação, ampliando o combate à poluição luminosa e promovendo a popularização da Astronomia em áreas naturais. Em outubro de 2025, o grupo deu origem ao Instituto Astroparques, organização sem fins lucrativos criada para fortalecer ainda mais o astroturismo no Brasil.
O astroturismo — ou turismo astronômico — tem ganhado espaço no Brasil e no mundo. Ele se baseia na observação do céu noturno em ambientes adequados e na vivência integrada entre natureza, ciência, arte e cultura. Por ser uma atividade de baixo impacto e alinhada ao ecoturismo, também contribui para a educação ambiental e o fortalecimento das comunidades do entorno.
Minas Gerais é apontado como um dos estados com maior potencial para o desenvolvimento do astroturismo, graças às suas extensas áreas com baixa poluição luminosa, diversidade de biomas e rede de unidades de conservação. O estado reúne condições ideais para atividades noturnas seguras, educativas e voltadas ao turismo sustentável.