Projeto-piloto incentiva construção de fossas ecológicas no Sul de Minas

Experiência une Emater-MG, Unifei e Prefeitura de Itajubá na área rural

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Emater-MG / Arquivo

Uma parceria entre Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado de Minas Gerais (Emater-MG), prefeitura local e Universidade Federal de Itajubá (Unifei) está incentivando cuidados com o meio ambiente no município do Sul do estado. O trabalho é desenvolvido em projeto-piloto de sustentabilidade em uma propriedade rural. O experimento envolve o descarte correto das águas usadas nas moradias rurais, originárias de banheiros, cozinhas e tanques de lavar roupas, com a implantação de saneamento nesses locais.

O ponto de partida foi a construção de uma fossa ecológica para a coleta de dejetos do banheiro da casa de agricultores familiares do Sítio Bom Retiro (parte da antiga Fazenda Pedro Félix), no município. A obra, concluída há cinco meses, eliminou um problema que a produtora Heleny Mendes dos Santos, de 57 anos, e seu marido Sebastião Luiz dos Santos, de 68, enfrentavam há mais de 40 anos: o despejo de águas do vaso sanitário no Ribeirão José Pereira. O curso d’água, que corta várias propriedades dessa área rural, deságua no Rio Sapucaí, manancial que banha e abastece a área urbana de cidades da região.

“Moro aqui há 44 anos e isso me incomoda muito, pois não acho legal jogar no rio. A gente tem que pensar nas crianças. Tenho um casal de netos e imagino como seria a vida deles sem água potável. Temos de pensar nas gerações futuras. Não podemos mais poluir o rio. Precisamos favorecer a saúde das pessoas que virão”, defende Heleny Mendes.

A agricultora conta que já iniciou também a construção do sistema de tratamento para as águas cinzas, provenientes de pias, tanques e chuveiros, utilizando o círculo de bananeiras como alternativa para o tratamento desses efluentes. A iniciativa conta com a ajuda da Emater-MG, Prefeitura Municipal de Itajubá, Unifei e uma empresa privada de tubulação, pois a família não tem condição financeira para bancar as obras.

 

Emater-MG / Arquivo

Tevap

A tecnologia usada na construção dessas fossas ecológicas é também conhecida como Tanque de Evapotranspiração (Tevap). Sua instalação conta com a orientação técnica da Emater-MG. O extensionista agropecuário do escritório local da empresa, Augusto César da Silva, explica que é um sistema de tratamento e reaproveitamento dos nutrientes dos resíduos provenientes do vaso sanitário para o plantio, por exemplo, de bananeiras, na área que cobre o tanque.

“É um sistema fechado, onde não há saída de água. Nele ocorre a decomposição anaeróbica da matéria orgânica, mineralização e absorção dos nutrientes e da água pelas raízes dos vegetais. Os nutrientes deixam o sistema incorporando-se à biomassa da planta e a água é eliminada por evapotranspiração. Não há escoamento. Dessa forma, não polui o solo e não deixa nenhum microrganismo patógeno sair”, diz Augusto.

Ainda segundo o técnico, o Tevap é considerado bastante eficiente para a agricultura familiar, pela durabilidade, fácil construção, baixa manutenção, baixo custo e benefícios sociais e ambientais incalculáveis. “É muito viável para a agricultura familiar, por evitar danos ambientais causados pela disposição incorreta dos efluentes, preserva a saúde da população e a qualidade dos recursos hídricos e solos”, afirma.

Augusto César também confirma que a obra pode ser feita com o reaproveitamento de materiais como pneus, restos de obras e pedras. “Aqui na região, o custo pode variar de R$ 1,2 mil a R$ 2,5 mil, conforme os materiais utilizados e a mão de obra disponível”, ressalta. Conheço Tevap com mais de 20 anos em perfeito estado de funcionamento, mas algumas literaturas citam vida útil de até 30 anos”, assegura.

Organização internacional

Considerada uma tecnologia social, o Tevap é objeto de estudo do projeto “Time Enactus Unifei Itajubá”, que envolve um grupo de 22 estudantes de variadas disciplinas da instituição acadêmica. O intento envolve a participação de parceiros da esfera privada, municipal, estadual e federal. A proposta central é alcançar alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), como saúde e bem-estar, água potável e saneamento, além de redução das desigualdades.

A Enactus é uma organização internacional sem fins lucrativos, com sede nos Estados Unidos e presença em 37 países, dedicada a inspirar jovens universitários a melhorar o mundo, por meio da ação empreendedora sustentável e socioambiental.

Coordenador do projeto na Unifei, agrônomo, mestre em Administração pela Ufla e doutor em Engenharia Agrícola pela Unicamp, o professor Luiz Eugênio Pasin explica que para os estudantes esse é um projeto que permite promover o comportamento empreendedor, estimulando-os a desenvolver soluções criativas e inovadoras, mediante a atividade de extensão.

Sobre a parceria entre Emater-MG e Unifei, Pasin ressalta a experiência da empresa mineira de extensão rural e sua capilaridade que permite alcançar e atender comunidades rurais. “A Emater-MG apresenta expertise no desenvolvimento do trabalho com a tecnologia social que envolve o Tevap. E expertise no desenvolvimento de atividades de extensão rural.”



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