Pioneiro na saúde estadual, ambulatório amplia papel do Hospital Eduardo de Menezes

Prevenção e gerenciamento do risco são fortalecidos com ações do ambulatório de profilaxia pré-exposição (PrEP) do HEM

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O HEM ampliou sua abrangência e atua efetivamente para a redução de novas infecções pelo HIV
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Perto de completar dois anos, o Ambulatório de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEp) do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), da Rede Fhemig, única unidade hospitalar que oferece o programa na rede de saúde estadual, tem contribuído de forma efetiva para o autocuidado, a qualidade de vida e o acesso à saúde integral dos seus usuários. Anualmente, são realizadas quase 300 novas consultas, de um total de aproximadamente 700 atendimentos por ano.

O HEM - que trata pacientes que vivem com o HIV/Aids, entre outras doenças infectocontagiosas - a partir da PrPEP, ampliou sua abrangência e atua efetivamente para a redução de novas infecções pelo HIV. Evidências científicas, conforme a Fhemig, demostram que indivíduos que aderem à PrEP têm entre 86% e 96% de chances de não se infectarem.

Crédito: Alexandra Marques

Com o início dos atendimentos, em janeiro do ano passado, a prevenção adquiriu novo significado para uma população que, embora não esteja infectada pelo HIV, é altamente vulnerável ao vírus. A abordagem também levou pacientes e profissionais a encararem a doença sob a perspectiva da redução de novos casos.

Segundo a diretora assistencial do HEM, a médica infectologista Tatiani Ferreguetti, a prevenção é trabalhada de outra forma com o ambulatório. “São pessoas que não estão doentes, mas que apresentam maior vulnerabilidade para a infecção e que se não estivessem aqui, provavelmente, teriam grandes chances de se infectarem”.

Tatiani ressalta que a PrEP não é para ser usada como estratégia isolada de prevenção. “É uma medida muito eficaz de prevenção do HIV, desde que inserida na prevenção combinada, que abrange as estratégias de prevenção disponíveis”, destaca. 

Ainda de acordo com a diretora assistencial, o ambulatório de PrEP deve ser entendido como uma porta de entrada para a saúde integral e uma oportunidade de se abordar questões como o gerenciamento de risco, o autocuidado e a prevenção de outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).

Novas estratégias

A PrEP está inserida nas novas estratégias de prevenção, que são formas complementares na luta contra a epidemia de HIV, ao ampliar as opções que as pessoas têm para se prevenir do vírus, além do preservativo que, até pouco tempo atrás, era a única forma de prevenção.

A Profilaxia pré-exposição ao HIV (PrEP) é o uso de antirretrovirais por indivíduos que não estão infectados pelo HIV, mas que apresentam grande vulnerabilidade ao vírus. São elegíveis para a PrEP, homossexuais e outros homens que fazem sexo com homens (HSH), transexuais e travestis, profissionais do sexo e casais sorodiferentes, ou seja, quando um dos parceiros é soropositivo e o outro não.

No entanto, não basta apenas pertencer a um desses grupos para ser caracterizado como elegível à PrEP. Na primeira consulta, o médico analisa o quadro mais amplo das práticas sexuais e dos contextos específicos de vulnerabilidade a que essas pessoas estão expostas, de modo a inseri-las ou não no programa.

Conscientização

Jorge iniciou seu tratamento no ambulatório de PrEP do HEM por sugestão da médica que acompanha sua namorada Suzana, que é HIV positivo. Além disso, ambos são profissionais do sexo. Embora afirme que tem consciência da importância da prevenção, tanto em seu trabalho quanto em sua vida pessoal, o casal está junto há três anos e, desde então, não usam preservativo na relação que Jorge classifica como estável e baseada na confiança mútua. Com os clientes, ele ressalta que o preservativo é utilizado.

“Porque a gente trabalha com o sexo, com a PrEP ficamos mais tranquilos por não nos expormos ao risco de infecção. O cuidado é fundamental. Converso muito com as pessoas, e oriento quanto à prevenção”, garante Jorge que também trabalha como motorista de aplicativo do serviço de transporte privado.

Ele conta que, no seu dia a dia como motorista, acaba se convertendo em uma espécie de disseminador de informações sobre as diversas possibilidades de prevenção e redução de risco, não somente em relação à aids, como também outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs), pois tem a oportunidade de conversar com um grande número de pessoas.

Jorge elogia os profissionais que o atendem no ambulatório de Prep do HEM e assegura que, desde que começou a frequentar o programa, ampliou sua compreensão em relação às ISTs. “O pessoal é muito profissional, muito humano. É maravilhoso conversar com eles. É ter consciência do que ocorre com você, com o seu tratamento”, ressalta.

“A gente também realiza sonhos. Muitas mulheres cujos parceiros são HIV positivo procuram a PrEP porque desejam se tornar mães, elas aderem ao programa para engravidar com segurança”, revela a enfermeira do ambulatório, Ângela Rocha.

A auxiliar administrativa Renata, de 42 anos, é uma dessas mulheres. Grávida há cinco meses, ela está casada há 13 anos com Antônio, que é soropositivo e apresenta carga viral indetectável. Desde o início do relacionamento, Renata sabia da condição do marido, que se trata no ambulatório de infectologia do HEM há vários anos.

Renata iniciou a PrEP em janeiro deste ano, pois desejava engravidar. Com a confirmação da gravidez em junho, ela recebeu alta um mês após. “É muito seguro para quem deseja ter filho”. 

Esse é o segundo filho da auxiliar administrativa. O primeiro, de seis anos, foi fruto de fertilização, pois, segundo Renata, na época em que ela decidiu engravidar, não existia a PrEP e essa era a forma mais segura, no caso de casais sorodiferentes.

Permanência

Confirmado seu perfil para a PrEP, a pessoa tem que tomar diariamente um comprimido que é a associação de dois medicamentos (tenofovir e entricitabina). O remédio impede que o HIV infecte o organismo, ao haver contato. No entanto, a profilaxia pré-exposição somente terá efeito se o comprimido for ingerido todos os dias. Ao deixar de tomar um dia sequer, a concentração do medicamento na corrente sanguínea pode não ser suficiente para o bloqueio do vírus.

Também é necessário realizar exames de forma regular e comparecer ao serviço ambulatorial a cada três meses para recebimento da medicação. Os primeiros 30 comprimidos são recebidos na primeira consulta e após teste rápido para a detecção do HIV, hepatites e sífilis. É fundamental destacar que a PrEP não protege de outras ISTs. Assim, ela deve ser associada a outros meios de prevenção, como o preservativo. Isso porque as ISTs aumentam em até 18 vezes as chances de infecção pelo vírus HIV. 

Segundo dados do Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids), o risco de infecção por HIV é 22 vezes maior entre homens que fazem sexo com homens e têm múltiplos parceiros, 21 vezes maior para profissionais do sexo e 12 vezes maior para pessoas transexuais.

Acesso

Para ter acesso ao serviço, basta ligar para o número (31) 3328-5055 e agendar a consulta. O ambulatório de PrEP funciona às quintas-feiras, das 13h às 17h, e às sextas-feiras, das 7h30 às 12h30.

A equipe é formada por um médico infectologista e dois enfermeiros. De acordo com a médica Ana Paula Baeta, a demanda vem crescendo de forma constante. “Muitos usuários dizem que suas vidas mudaram completamente após frequentarem o ambulatório de PrEP”, finaliza.



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