Lançado projeto de Preservação do Sistema de Conhecimentos Ancestrais do Povo Tikmũ’ũn-Maxakali

Iniciativa receberá cerca de R$ 1 milhão de investimento do Fundo dos Embaixadores para a Preservação Cultural no Brasil  

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Única proposta do país contemplada no edital lançado pela Embaixada e Consulados dos Estados Unidos no Brasil, o Projeto de Preservação do Sistema de Conhecimentos Ancestrais do Povo Tikmũ’ũn-Maxakali foi lançado nesta terça-feira (26/9), em evento realizado no Palácio da Liberdade. A iniciativa é do Governo de Minas, por meio do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG) e da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo (Secult), e se insere no Programa de Salvaguarda das Culturas Indígenas em Minas Gerais, o qual foi anunciado em abril deste ano dentro da programação da Ocupação Artística Abril Indígena. 

Léo Bicalho / Secult

Participaram da solenidade representantes da comunidade Maxakali, do Governo de Minas, da Universidade Federal de Minas Gerais, dos Consulado dos Estados Unidos da América e da Promotoria de Justiça de Minas Gerais. 

Dentre os 28 selecionados no edital, que recebe inscrições do mundo todo e é dedicado à preservação do patrimônio cultural, cinco são da América Latina, incluindo a proposta encaminhada pelo Iepha-MG. A proposta receberá cerca de R$ 1 milhão do Fundo dos Embaixadores para a Preservação Cultural no Brasil.  

Os recursos vão garantir a realização do trabalho que visa à preservação da língua nativa dos Maxakalis, do artesanato, das músicas, das cerimônias e das técnicas de agricultura, de pescaria e da caça. O primeiro passo será o desenvolvimento de estudos e ações de proteção dos seus costumes, por meio da identificação e documentação dos sistemas de conhecimentos ancestrais da comunidade, o que deverá ser organizado de forma colaborativa.  

O resultado dessa etapa será a criação de um inventário do território de canto “Yãmixop”, juntamente com uma produção audiovisual, além de seminários, fóruns e exibições de filmes e do desenvolvimento de um plano de salvaguarda.  

Sueli Maxakali, representante da comunidade indígena, comemorou a iniciativa. “Estou muito feliz de estar aqui representando meu povo Maxakali. Era o meu sonho de preservar a nossa memória, para que ela permaneça viva para nossas crianças. Registrar o que era dos nossos antepassados e agradecer a todos os nossos mais velhos que deixaram essa memória para o meu povo”, exaltou Sueli.  

A presidente do Iepha-MG, Marília Palhares, pontuou que o trabalho a ser desenvolvido será de forma participativa junto com os indígenas. “O Projeto de Preservação do Sistema de Conhecimentos Ancestrais do Povo Tikmũ’ũn-Maxakali dá continuidade às ações iniciadas há 20 anos, adotando agora o processo participativo. Os integrantes da comunidade serão protagonistas desse processo. Muitos deles são professores, artistas, pesquisadores, cineastas que contribuirão de forma significativa para o êxito desse projeto”, pontuou Marília.   

O secretário de Estado de Cultura de Minas Gerais, Leônidas Oliveira, ressaltou o papel do Iepha na proteção das culturas tradicionais e originárias. “Durante 52 anos de existência, o Iepha não havia instituído uma política para as afromineiridades, como estamos fazendo. Agradeço a esse novo Iepha que desponta e cria também uma política de proteção para as culturas dos povos indígenas”, sublinhou. 

A conselheira para assuntos de Cultura, Educação e Imprensa da Embaixada e Consulados dos EUA, Elizabeth Detmeister, ressaltou a relevância da proposta. “Apoiar este projeto para uma comunidade de grande importância para a história mineira é uma satisfação. Essa iniciativa permitirá a conservação de práticas transmitidas de geração a geração. Além disso, será uma plataforma para compartilhar essa riqueza cultural de forma mais ampla com a comunidade brasileira”.  

Sobre o povo Maxakali

Os Maxacalis são o único povo indígena do estado que mantém a sua língua materna, com uma vida dinâmica no Vale do Mucuri em quatro principais áreas: nas aldeias de Água Boa, no município de Santa Helena de Minas; em Pradinho e Cachoeira, no município de Bertópolis; em Aldeia Verde, no município de Ladainha, e no distrito de Topázio, em Teófilo Otoni. 

Todo povo indígena tem um nome pelo qual é conhecido, e essa denominação é chamada de etnônimo. Maxakali é um exemplo: esse povo é conhecido no Brasil por meio dessa denominação. Mas, entre eles, o termo usado é outro: Tikmũ’ũn, a combinação de termos como tihik, que significa homem, e mu’un, que tem o sentido de grupo e inclusão. Na tradução para a língua portuguesa, essa ideia pode ser transmitida por apenas três letras: nós. 

 



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