Jovem aprende a ler e escrever durante internação provisória

No Centro Socioeducativo de Patos de Minas, adolescente que só sabia assinar o nome foi alfabetizado em 37 dias

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Desde o primeiro dia internação, Luiz começou a assistir as aulas, surpreendendo a todos da unidade com sua disposição e desenvolvimento
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Luiz Freire*, 16 anos, deu entrada no Centro Socioeducativo (CSE) de Patos de Minas, no Alto Paranaíba, no dia 29 de maio de 2020, quando mal sabia assinar o próprio nome. Dentro da unidade, o jovem começou a ter aulas remotas, devido à pandemia, e até o dia 4 de julho, quando terminou a sua medida de internação provisória, tinha aprendido a ler e escrever. A educação é obrigatória durante o cumprimento das medidas socioeducativas de internação e provisória. Luiz, assim como todos os adolescentes que cumprem medida nas unidades administradas pela Subsecretaria de Atendimento Socioeducativo (Suase), da Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública (Sejusp), precisa estudar enquanto cumpre a medida.

Ao chegar ao CSE de Patos de Minas, durante a avaliação pedagógica, a equipe constatou que o jovem não havia adquirido habilidades de escrita e leitura e tinha dificuldades em raciocínio lógico e nas operações básicas de matemática. Desde o primeiro dia internação, Luiz começou a assistir as aulas, surpreendendo a todos da unidade com sua disposição e desenvolvimento.

O adolescente participou de todas as atividades propostas, mesmo com as defasagens de ensino, sendo aluno destaque em um dos cursos oferecidos pela unidade, "Conectados com o Amanhã", da organização Junior Achievement. Por mais que não quisesse estar no CSE, Luiz conta que na unidade pôde novamente se voltar para seus próprios sonhos: “Eu sempre quis ser professor de Informática ou trabalhar na área, e achava que isso era fora da minha realidade. Mas aqui pude ver isso no meu futuro outra vez”.

Trabalho multidisciplinar

O Centro Socioeducativo de Patos de Minas é destinado a adolescentes encaminhados para cumprir medida de internação provisória, geralmente num período curto. Independentemente do período de cumprimento da medida, desde a entrada dos jovens nas unidades são disponibilizados serviços técnicos nas áreas de psicologia, serviço social, pedagogia, terapia ocupacional, medicina, enfermagem, odontologia e direito, além de acompanhamento escolar, oficinas em diversas modalidades e atividades nas áreas de inclusão produtiva, esporte, cultura e lazer.

Divulgação / Sejusp

A unidade socioeducativa de Patos segue oferecendo ensino para os adolescentes, mesmo durante a pandemia. As aulas deixaram de ser presenciais e estão sendo de forma on-line em turmas pequenas, o que traz maior aproveitamento. Seguindo a rotina de uma escola normal, de segunda a sexta-feira, das 7h às 11h, os jovens em cumprimento de medida assistem as aulas virtuais, com uma professora em tempo real do outro lado da tela.

De acordo com o diretor-geral do CSE de Patos de Minas, Marcos Vinicius Barbosa, os adolescentes são acompanhados pelos agentes socioeducativos durante a aula, mas quem controla a disciplina são as professoras, a distância. “Elas são bem aplicadas e, se necessário, chamam a atenção do adolescente. Até o momento não houve transgressão disciplinar em horário de vídeo-aula. Os adolescentes têm demonstrado bastante interesse e as professoras estão inovando para manter o entusiasmo deles”, conta o diretor.

As professoras são as mesmas que trabalhavam presencialmente no segundo endereço da Escola Estadual Deiró Eunápio Borges, instalada no CSE. Os adolescentes são acompanhados pedagogicamente todos os dias pelas profissionais da Educação, que informam a direção de atendimento da unidade socioeducativa sobre o desenvolvimento de cada um durante as aulas.

Ensino Remoto

A Diretoria de Educação e Formação Educacional, Profissional, Esporte, Cultura e Lazer da Suase precisou se adaptar para manter a atividade educacional nas unidades socioeducativas. Com apoio da Secretaria de Estado de Educação (SEE), foram desenvolvidas novas modalidades de ensino não presencial, de acordo com a demanda e a capacidade das unidades. Segundo o gerente de Formação Educacional da Suase, Edilton Araújo, as ações utilizam todos os recursos tecnológicos possíveis.

“Estamos a cada dia aprendendo novos meios para alcançarmos os adolescentes e jovens com as atividades escolares não presenciais. Buscamos padronizar os procedimentos levando em consideração as diferenças entre a medida de internação e a internação provisória, e as peculiaridades dos adolescentes. Em cada unidade temos uma pessoa de referência para receber e orientar a equipe sobre como o material escolar enviado deve chegar ao estudante”, explica Edilton.

Existem duas possibilidades de ensino. Em uma delas, as aulas acontecem em tempo real por videoconferência, como no CSE de Patos de Minas, onde o professor encaminha atividades impressas aos estudantes e dá aulas em tempo real para os alunos. Nesses casos, a interação é maior entre os jovens e os professores, além de os alunos poderem tirar dúvidas.

Na outra, os professores gravam vídeos de no máximo 20 minutos com o conteúdo da disciplina, e as aulas são intercaladas com as atividades impressas encaminhadas pelos professores. Os profissionais que preparam e lecionam as aulas são os mesmos que trabalhavam presencialmente nas unidades socioeducativas. Isso facilita o plano de aula e o acompanhamento, já que os professores conhecem bem os alunos e fazem o material de modo a alcançar cada estudante de acordo com suas necessidades específicas.

* Nome fictício para preservar a identidade do adolescente, conforme recomendação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). 



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