Esporte mobiliza jovem para o ensino superior

Paixão pelo futebol foi combustível para João Marcos Oliveira cursar Educação Física

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O sonho de ser jogador profissional de futebol terminou há cerca de um ano para João Marcos Rodrigues de Oliveira, um jovem de 18 anos que mora no pequeno município de Ewbank da Câmara, na Zona da Mata mineira, com apenas 4 mil habitantes. Ele fez testes para entrar em clubes como Flamengo, Vasco, Cruzeiro e América, mas, aos 17 anos, decidiu que não iria mais insistir. E o que parecia ser uma porta fechada se transformou em uma oportunidade de carreira: seguir com os estudos e se transformar em um treinador físico.

Determinado a cursar Educação Física quando terminasse o 3º ano do ensino médio, João intensificou seus estudos. Com dedicação, foi também aluno destaque na maioria das turmas durante suas etapas da educação básica. Em 2019, com o diploma do ensino médio em mãos, foi aprovado para o curso que tanto queria na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). A partir de agosto, o estudante começará a cursar Educação Física, habilitação igualmente capaz de inseri-lo nos grandes times do esporte mais popular do país.

Incentivo

João Marcos, que teve toda sua trajetória escolar na rede pública de ensino, é mais um exemplo de jovens que mudaram suas perspectivas de vida com a ajuda do Programa de Iniciação Científica da Secretaria de Estado de Educação (SEE). Ele integrou o grupo de pesquisa da Escola Estadual Antônio Macedo, em Ewbank da Câmara, que teve seu projeto aprovado em 2017 para participar do eixo Territórios de Iniciação Científica (TICs).

Crédito: Arquivo pessoal

Durante todo o ano passado, um grupo de oito alunos, em conjunto com o professor orientador, Pablo Rafael de Oliveira Carlos, desenvolveu o projeto “Construção de um Laboratório de Ciências de Baixo Custo e Inserção do Ensino de Ciência por Investigação”. O objetivo era incrementar o laboratório já existente na escola com maior quantidade de experimentos de física, elaborados a partir de material reciclável ou reciclado, tendo como base a proposta de ensino que torna os alunos agentes ativos na construção do conhecimento.

Já com o interesse voltado para novas experiências, João Marcos disse que o convite para participar dos TICs foi imediatamente aceito, embora na época da inscrição do projeto todos achassem que era uma possibilidade distante. “Sabíamos que íamos participar de um processo seletivo com escolas de todo o estado, mesmo assim estava empolgado com a chance de construir um laboratório na escola. Quando fomos aprovados, a satisfação foi enorme. Aos poucos, conhecendo o projeto, vi que ele me ajudaria não só a ter uma outra visão da física, mas que ele estava me guiando para realizar um sonho”, explicou João Marcos.

O estudante percebeu que o seu desempenho nos exercícios de física em sala de aula foi melhorando – e era uma das disciplinas que ele considerava mais difícil no terceiro ano. “Comocei a observar que fui ficando com mais facilidade para resolver as questões. Percebi que tinha conteúdo que era ensinado em sala mas que eu já tinha visto na prática, na construção dos experimentos, usando a metodologia da investigação no projeto. Isso me ajudou demais a passar no vestibular, porque a prova de física do PISM no terceiro ano é muito difícil. Não fosse o projeto, não sei se eu teria sido aprovado”, conta João, que realizou o Programa de Ingresso Seletivo Misto (PISM) da UFJF – uma espécie de vestibular seriado que divide as provas durante os três anos do ensino médio.

Comemoração em família

João Marcos é o primeiro de sua casa a ingressar no ensino superior e já teve festa para comemorar a aprovação. “Apesar de, na minha família, as pessoas terem o costume de parar os estudos no ensino médio, meus pais sempre me incentivaram a seguir em frente. Estudo muito desde criança mesmo, por isso sempre tive um perfil de estudante dedicado. Mas quando fiquei sabendo da minha aprovação, não acreditei. Estava dentro do ônibus, voltando para Ewbank de um treino de futebol que tive em Juiz de Fora, e uma amiga me ligou para contar. Achei que ela estivesse brincando. Minha mãe fez até um churrasco pra comemorar”, relata o futuro educador físico.

Hoje, enquanto não começa sua vida acadêmica, João Marcos é voluntário no mesmo projeto que, apesar de já ter seu artigo final entregue em dezembro de 2018, continua em prática na escola, tamanha adesão teve de alunos, do professor orientador e de toda a comunidade escolar. E sobre as perspectivas para a carreira, ele não tem dúvidas: “Eu tentei, bastante mesmo, tornar-me um jogador profissional de futebol. Por pouco não consegui me profissionalizar. Como sempre amei futebol, desde que me entendo por gente, vou virar treinador. Até estágio em escolinha eu já fiz. E a formação em Educação Física vai vir para me ajudar a especializar em esporte, em saúde. Estou firme nesse propósito”, diz.

Laboratório de Ciências

O professor orientador do projeto na Escola Estadual Antônio Macedo, Pablo Rafael de Oliveira Carlos, conta que, logo que chegou à escola, em 2017, já fazia com os alunos um trabalho de organização do laboratório da escola. Segundo ele, havia o espaço, que não era totalmente aproveitado. Surgiu, então, o objetivo de construir um laboratório de Ciências de baixo custo, para estimular a inserção do ensino de ciência por investigação.

“Logo em seguida abriu o edital para o eixo Territórios de Iniciação Científica (TICs), e pensei que poderíamos escrever um projeto. Como a maioria do que tinha no laboratório era para biologia e física, propusemos a construção de experimentos de física a partir de materiais de baixo custo, com estruturas recicláveis. Alinhamos isso à ideia de executar o projeto por meio da metodologia de ensino por investigação, em que o professor atua como problematizador para que o estudante não só busque as respostas, mas que também construa, a partir delas, o experimento que exemplifique a teoria”, explica o professor.

Pablo conta que o laboratório hoje já possui vários equipamentos. Entre eles, um aparelho de ar-condicionado feito de garrafas pet. “Fizemos uma campanha na comunidade do entorno da escola para arrecadar as garrafas. A criança que trouxesse mais quantidade ganharia uma cesta de guloseimas. Os alunos e eu montamos, voluntariamente, o prêmio. Deu tão certo que tivemos que abrir a cesta e distribuir os doces, porque recebemos muitas, muitas mesmo. Montamos nosso ar-condicionado que funciona perfeitamente e é capaz de diminuir a temperatura do ambiente por meio de conservação de energia”, explica Pablo.

O professor de física revela, também, que o projeto ganhou muita credibilidade na comunidade escolar e continua neste ano de 2019. Segundo ele, o programa se mostrou de grande importância tanto pedagógica, quanto de transformação social. “Assim como o João Marcos, tenho certeza que os alunos que agora em 2019 estão no terceiro ano vão para o ensino superior, porque o projeto mostrou a todos os estudantes que eles são capazes”, afirma Pablo.



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